O falacioso "milagre" de Manassés
Nos dias hodiernos, tornou-se comum no meio
cristão se deparar com interpretações bíblicas bizarras. Embora, passem
despercebidas por uma grande massa de pessoas, há ainda nos dias de hoje
bereianos de plantão. Os cristãos de Beréia muito
nos ensinam com o hábito que possuíam de examinar as palavras que o pregador
pronunciava comparando-as às Sagradas Escrituras, até os ensinamentos de Paulo foram submetidos a essa análise.
Não é porque o pregador ou o pastor tem uma
boa dicção ou uma excelente oratória que não devemos analisar minuciosamente o
que se está ensinando em
uma mensagem. Todavia, a geração atual se assemelhou à geração de
Manassés e Amom. Foi preciso Deus levantar Josias e Jeremias que se
preocupavam com a sua Palavra. Tamanho foi o desprezo daquela geração que o
Livro da Lei estava perdido dentro da própria Casa do PAI. Quando a “presença”
do SENHOR é posta de lado a sua Palavra também é esquecida!
Há algum tempo que me incomodo com uma
interpretação esdrúxula do seguinte texto das Escrituras: “José chamou ao primogênito Manassés,
porque disse: Deus me fez esquecer de todo o meu trabalho e de toda a casa de
meu pai” (Gn 41.51). A análise interpretativa precisa obrigatoriamente
obedecer às regras da exegese que é
a profunda interpretação do texto em
apreço. O
contexto da referida passagem (cap. 41) se inicia com um sonho que faraó teve, produzindo nele uma
vontade de interpretar-lo, mas nenhum mago, feiticeiro, adivinho, astrólogo foi
capaz de discernir tal sonho. Em seguida, o copeiro-mor se lembra de José
fazendo com que este seja requisitado imediatamente diante da presença de
faraó. José interpreta o sonho por intermédio do Espírito de Deus e é elevado à
posição de chanceler, primeiro-ministro ou governador, como queira, e recebe o
nome de Zafenate-Panéia (Jerônimo traduziu este nome como: Salvador do Mundo). Casa-se com Azenate e administra os recursos do Egito nos sete anos de
fartura, para que nos sete anos de seca não faltassem alimento. Chega-se ao ponto que
abordaremos o falacioso “milagre de
Manassés”. Agora, José é um homem bem- sucedido, e para completar sua
felicidade nasce do ventre de sua mulher dois filhos, o primeiro (primogênito)
é Manassés significa “aquele
que faz esquecer”, e o segundo é Efraim, significa frutificação
(vide Comentário Champlin, Antigo Testamento Volume I, pag. 257).
Há por aí uma interpretação grotesca dessa
passagem que afirma que tal relato dá base para orarmos para pessoas viciadas
em todas as espécies de vício e outros problemas a fim e que ao invocar o “poder” contido neste versículo as
pessoas esqueçam que um dia foram viciadas,
supostamente idêntico ao esquecimento que José teve da casa de seu pai quando
lhe nasceu Manassés. Quanta ignorância! O
que impera nos dias de hoje é a eisegese
que consiste no ato de impor ao texto o que desejamos que ele tenha ou
injetar no mesmo aquilo que não possui.
Para a correta e inequívoca interpretação
do Livro Sagrado é preciso observar os hebraísmos, as expressões idiomáticas,
os paralelismos, as metáforas no contexto em voga, em suma, a cultura
judaica. Interpretar a Bíblia à nossa
própria maneira ignorando a exegese
é semelhante a um eletricista que tenta obstinadamente entender e interpretar
um vade mecum. Os púlpitos estão cheios de “eletricistas” que ao acender uma
lâmpada em suas cabeças pronunciam asneiras e “achismos”. Houve um tempo em que
havia os crente anti-teológicos, que se opunham descaradamente aos que se
dedicavam à teologia. Mas, esse tempo passou e hoje o cenário evangélico
brasileiro evidencia a necessidade de apologetas se arvorarem contra toda e
qualquer deturpação das Sagradas Escrituras. Considerando que era comum entre
os hebreus dar nomes aos seus filhos com significados que remetiam ao passado,
mormente, uma situação vivida no presente ou uma antevisão do que aconteceria
no futuro, José nomeia o seu primogênito com um significado que ilustrava seu
passado de sofrimento, ignomínia e ultraje, onde os seus principais adversários
eram os seus próprios irmãos. O escritor
do ”livro das origens” em nenhum momento apóia o pensamento de que José tenha
sofrido de uma espécie de amnésia
esquecendo-se completamente de tudo o que vivera entre os seus familiares.
O movimento que vem acontecendo denominado “milagre de Manassés” tem em seu
próprio nome um erro crasso, pois nesse caso a preposição “de” indica posse, dessa forma refutamos o mal pela sua raiz, pois,
o milagre não tem origem e nem é mantido em posse de um homem, o milagre se dá
em uma esfera exclusivamente sobrenatural, portanto divina. É fatídico saber
que massas afluem para experimentar o “fogo
estranho” e que pastores usem a tribuna para ludibriarem os seus ouvintes. O
assunto em evidência se assemelha a técnicas
de manipulação do que de uma oração que hipoteticamente teria
o poder de fazer com os que são alvos da intercessão se esqueçam de tudo o que
ficou para trás, principalmente, dos vícios.
Em última análise é indispensável destacar
que a vontade de Deus é que nos lembremos do nosso passado vergonhoso e execrável com a finalidade de testemunharmos no presente a
transformação que foi operada em nossas vidas através do genuíno Evangelho (1
Pe 2.9 ). A Palavra não pode ser distorcida ou desvirtuada ao nosso bel prazer, antes ela é a Palavra que
procede da boca de Deus para o ouvido dos homens, mas muitos estão com comichões no ouvido (2 Tm 4.3) de
maneira que não suportarão o santo
ensino (vide VKJ 2 Tm 4.3 pág. 2356). Aquele
que tem ouvidos, compreenda o que Espírito revela às igrejas! (Ap 2.29).
Por Esdras Moreira Machado
creio na ótima interpretações. precisa ser pelo ou menos baixarel em teólogia, para compreender.
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