Cristão camaleão ou garça?
O
tema desta feita abordará o papel do cristão face ao sistema mundano (gr. aeon); e consequentemente o
comportamento que todo proponente do genuíno Evangelho que se preze, deve ter
ante as investidas do mundo. O portar de muitos crentes tem negado de forma
veemente a Palavra que dizem possuir. Mas, surge uma pergunta que perpassa
pelas cabeças de muitos de nós: Até qual
ponto podemos nos relacionar com o mundo sem infringirmos a Palavra de Deus bem
como a nossa espiritualidade, moral e caráter cristão? Uma pergunta
complexa como essa exige uma análise pormenorizada de algumas perícopes
bíblicas que nortearam o assunto em apreço.
Em
primeira instância analisemos o versículo 11 do Capítulo 5 de Efésios que
assevera: “Não comuniqueis com as obras
infrutuosas das trevas, mas antes, condenai-as”.
Fazendo um exame acurado do texto levando em consideração a sua correta
compreensão à luz da hermenêutica e exegese depreende-se da passagem
supracitada que o apóstolo Paulo condena
vigorosamente o comunicar com as
obras infrutíferas do reino das trevas. Além disso, o termo “comuniqueis” no original grego é synkoinōneō que significa: compartilhar de algo, coparticipar
de alguma coisa, ter comunhão com
algo ou com alguém ( vide Bíblia Palavras- Chave, Dicionário do N.T pág. 2405,
nota 4790). Sendo assim, torna-se evidente afirmar que qualquer comunhão com as
obras das trevas fere diretamente a comunhão (gr. koinonia) com o Espírito Santo.
Em
segunda instância ainda podemos destacar o versículo 14 do Capítulo 6 de 2
Coríntios que diz seguramente: “Não vos
prendais a um jugo desigual com os
infiéis, que sociedade tem a justiça
com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas”. Mais uma vez os escritos paulinos são
decisivos para abordar a temática em voga. O Apóstolo lança mão de uma figura
de linguagem chamada antítese que
consiste no ato de empregar palavras com sentidos opostos, em suma, antônimos com o objetivo de frisar o escopo
de sua mensagem; tais palavras foram destacadas em negrito no versículo acima. Ademais, as palavras em destaque podem
assumir o emprego de outra figura de linguagem por nome de paradoxo que realça a indisposição de conciliar termos como: justiça e injustiça; luz e trevas. A
perícope em análise traz em seu bojo duas palavras que são imprescindíveis para
o nosso entendimento do referido versículo, são elas: jugo desigual que nos
remete àquela época em que se atasse um boi
a um jumento para algum tipo de
serviço se concretizava o jugo
desigual, guardada as diferenças visíveis de força física entre os dois
animais. A porção bíblica que estamos dissecando ainda apresenta a palavra sociedade
que dispensamos o seu significado original por se tratar de um vernáculo
perfeitamente inteligível dentro do seu contexto. Há por aí uma turba de
“crentes” que são indiscutivelmente sócios
do mundo; os quais se reúnem diariamente na diretoria da empresa (mundo)
que tem por chefe o Príncipe deste mundo, Satanás, para comunicarem uns aos outros as obras infrutíferas das trevas.
Há
alguns dias aconteceu no Brasil o famigerado Carnaval, em síntese uma festa
mundana que é um palco de orgias, bebedeiras, nudez explícita, invocação aos
orixás e tudo o se refere ao Candomblé, Umbanda, Quimbanda e Macumba, o chamado
baixo espiritismo. Nos últimos anos surgiu uma nova modalidade de blocos
carnavalescos, os dos evangélicos, que justificam a presença na festividade
mundana com o argumento que é preciso evangelizar no Carnaval. Há uma grande
mobilização, arruma-se trio elétrico e toda a parafernália necessária para que
o Carnaval seja a “oportunidade de pregar aos perdidos”. Ledo engano! Isso não
pode ser a Igreja do Deus vivo! A palavra igreja traz um significado que
projeta luz em tal abordagem, Ekklesia (tirados
para fora); portanto, entende-se que a diferença entre a Igreja e o sistema
mundano está exatamente quando há diferenças em suas atitudes. Mas, está
havendo uma constante relativização do
pecado e consequentemente uma intensa banalização
das sãs doutrinas. Digamos não à depreciação
da Palavra, principalmente, em nossas liturgias nas quais é destinado um
tempo irrisório e insignificante à exposição da Palavra. Sola scriptura!
A
estratégia usada por alguns grupos evangélicos citada no parágrafo anterior é
apenas uma das muitas que tais grupos praticam, contaminando suas vestes
espirituais de forma descarada e ignominiosa. “Boates gospéis”, “bares gospéis”;
e tantas outras aberrações como essas marcam a atual era cristã. Toda vez que
me deparo com situações semelhantes a estas penso, reflito e transporto Paulo,
Pedro, João, Tiago e outros discípulos para esse tempo em que vivemos e me
pergunto: Será que eles fariam isso ou aquilo? Em muitas dúvidas chego a
conclusões bem diferentes das quais muitos crentes modernos e mundanos chegariam.
E para fundamentar eventos afins os seus defensores argumentam que é necessário
atrair, mormente, os jovens com “inovação”; e lançam mão do versículo 20 e 21
da primeira carta aos Coríntios no Capítulo 9 que diz: “ E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeu; para os que
estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão
debaixo da lei . Para os que estão sem lei, (não estando sem lei para com Deus,
mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como
fraco para os fracos , para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, que
por todos os meios, chegar a salvar
alguns.
Considerando
o versículo retromencionado seria razoável imaginarmos o doutor dos gentios, o
apóstolo Paulo em uma festinha pagã em Atenas? Seria ponderado conjecturarmos
que o apóstolo participaria dos jogos infames e dos anfiteatros onde se
encenavam peças promíscuas e desavergonhadas, com o intuito de evangelizar
amantes de tais prazeres? A posição de Paulo quanto à idolatria e o pecado
sempre foi inflexível e irredutível, a passagem bíblica do livro de Atos dos Apóstolos
no capítulo 17 nos mostra tal comportamento inexorável, quando o mesmo
discursou no areópago e não hesitou em chamar os atenienses de supersticiosos! Paulo não era um camaleão, que se adapta ao
lugar ou ao ambiente. Paulo não se utilizou de meios imorais e carnais para evangelizar os judeus e os gentios, em
nenhum momento o apóstolo burlou os princípios
bíblicos para abarrotar as sinagogas de pessoas, para aumentar a membresia
da incipiente igreja. O versículo acima alude ao fato de Paulo não ser um
tradicionalista inarredável, porque se assim o fosse, não aceitaria em hipótese
alguma a salvação dos gentios, e que Paulo nunca fez acepção de pessoas procurando salvar
a todos.
Há
uma turma gospel por aí se
comportando como verdadeiros camaleões que
se camuflam conforme o lugar e o estabelecimento que se encontram. O cristão
nunca poderá ser um camaleão que se adéqua ao mundo e às suas repartições
mundanas, do contrário sujou as suas vestes e a enlameou no lamaçal deste
mundo. O cristão deve ser assemelhado a uma garça que embora ande no pantanal
não suja as suas plumas brancas. Não se contamine, não se misture, não se
associe ao mundo, siga os exemplos de Daniel, Ananias, Azarias e Misael em meio
a babilônia. “E não vos conformeis (adequeis, amoldeis) com este mundo,
mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento para que experimenteis
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
0 comentários :
Postar um comentário