Sandálias da Irreverência
Vivemos dias
de flagrante irreverência para com as coisas de Deus. Muitos já não respeitam
mais a Pessoa de Deus no transcorrer de uma reunião eclesiástica; dizem estar
cultuando a Deus, mas seus corações e mentes não coadunam com as palavras que
saem das suas bocas; como o fariseus honram Jesus com os lábios, mas os seus
corações estão distantes do mesmo (Mt 15.8). Novos estilos de adoração surgem
no cenário evangélico chamada de “adoração extravagante” pelo apologeta Ciro
Sanches Zibordi em uma de suas obras. ¹
Quando lemos
a Palavra encontramos Deus falando com Moisés na ocasião do seu comissionamento
quando este avistou a sarça em chamas que não se consumia, as seguintes
palavras: “Não te chegues para cá, tira os teus sapatos (sandálias) de teus
pés, porque o lugar em que tu pisas é terra santa” (Ex 3.5). Era preciso que
Moisés tirasse as sandálias dos pés porque ele estava diante da santíssima
presença do Senhor; realidade inexistente nos dias de hoje, pois somos
constantemente incentivados a nos comportamos de várias maneiras diante da
presença de Deus por uma série de “louvores”, louvores que estimulam a pessoa
pular, dançar, rodar, girar, gritar na presença de Deus, menos mostrar-se
reverente diante dAquele que criou e sustenta todas as coisas pela palavra do
seu poder (Hb 1.3).
Alguns
pregadores conjecturam e imaginam porque Deus ordenou que Moisés tirasse as
sandálias dos pés, alguns destes chegaram a supor que a única coisa que havia
restado do Egito em Moisés era as sandálias, logo, não era possível Moisés se
achegar a presença do Todo Poderoso com resquícios do Egito; mas isso não passa
de especulações infundadas ou de uma “fantasiosa imaginação do pregador”. Há textos
bíblicos que exigem de nós uma interpretação simples e clara e o de Ex 3.15
demonstra essa verdade, Deus ordena que Moisés tira as sandálias diante de Sua
Presença em sinal de humildade, reverência, temor e respeito.
A Bíblia Dake nos traz um valioso comentário em sua nota de rodapé: “Os
orientais tiravam os sapatos em casa e em todos os lugares de adoração, como
quando tiramos o nosso chapéu. Era um gesto que simbolizava deixar de lado
todas as contaminações do andar no caminho do pecado.” ²
Os templos
estão abarrotados de pessoas arrogantes, soberbas, orgulhosas, jactanciosas,
envaidecidas pela torpe ideia de permanecerem irreverentes diante da presença
do Deus Elohim, O Elevadíssimo. Eu
aprendo com Moisés que é melhor ter os
pés descalços e ser vocacionado por Deus do que ter sandálias atadas aos pés,
mas não ouvir a voz do SENHOR. Sandálias da humildade, sapatos da
reverência, calçados do temor são as alparcas dos que verdadeiramente
professam a fé em Cristo Jesus. Não se
pode chegar diante do Deus vivo arrogantemente, prepotentemente, soberbamente é
necessário chegar-se a Ele humildemente,
respeitosamente, humilhantemente.
O salmista
Davi bem definiu o homem na ótica divina: “Pois Ele conhece a nossa estrutura e
lembra-se que somos pó” (Sl 103.14). O cantor J. Neto compôs uma música que seu
refrão diz: “Mas o homem não entende a vontade de Deus, iludido até pensa ser
maior que os céus; na verdade não é nada é pó e cinzas é o barro que sobrou”. O homem é o barro que sobrou! Quando
continuamos a vasculhar as páginas veterotestamentárias³
achamos no livro de Josué no Cap. 5 no versículo 15 a seguinte ordem divina:
“Então disse o príncipe do exército do SENHOR a Josué: Descalça os sapatos de
teus pés, porque o lugar que tu estás é santo. E fez Josué assim”. É
interessante notarmos esse texto que passa despercebido pela maioria dos
leitores da Bíblia, pois é muito comum citarmos apenas o episódio que aconteceu
com Moisés, mas as Sagradas Escrituras é clara ao apontar a mesma exigência que
Deus havia feito a Moisés, agora fazia a seu sucessor Josué; com isso
entendemos que Deus sempre exigirá humildade dos seus servos. Os tempos eram
outros, Moisés já havia partido, era Josué o líder de Israel, mas quando Deus
reproduz a mesma ordem a Josué que havia feito a Moisés era como se Ele
estivesse dizendo a Josué: “Eu ainda Sou
o mesmo, Eu ainda exijo reverência diante da minha Face, continuo Santo e para
sempre Serei, continuo em um Trono e para sempre Terei o cetro de Justiça em
minhas mãos, Josué! Josué! Tira as sandálias dos teus pés! Porque o lugar que
tu estás é santo!
A atual
geração é irreverente, indecente, indecorosa, indisciplinada, intransigente e
insubmissa. As pessoas vão aos templos para se reunirem socialmente, conversam,
balbuciam, futicam nos celulares, mascam chicletes, colam os mesmos nos
assentos das igrejas, vendem produtos até mesmo no horário do culto, tiram
selfies nos banheiros com roupas irreverentes, fazem da cantina o cantinho da
fofoca e do disse-me-disse, ensaiam louvores durante o culto nos estúdios, se
trancafiam nas secretarias e nos departamentos, e tudo isso é potencializado no
momento da pregação da Palavra. Uma
geração irreverente e extravagante! Onde há extravagância, há irreverência. Acorda
Igreja! É tempo de nos despirmos das sandálias da vaidade! A única sandália
que poderemos usar diante do SENHOR é sandália
da preparação do Evangelho da paz (Ef. 6.15). Como bem observou Cleissivan
Oliveira, professor de História na rede estadual do Maranhão: “A irreverência
dos que se dizem reverentes é irreverente para com Deus da reverência”. 4
Por fim, vale salientar que irreverência não
se resume apenas em ações de crentes que não possuam cargos eclesiásticos, mas esse mal
atinge os púlpitos, os altares, a liderança, os sacerdotes, os ministros.
Quando um pregador afirma que Deus disse algo que o mesmo não disse, tal
pregador é irreverente. Quando um pastor faz do altar um balcão de negócios, da
igreja uma empresa, dos membros seus clientes, tal pastor é irreverente e se
constitui em um falso pastor do rebanho de Cristo. A Irreverência pode atingir
todo coração sem o temor de Deus. Acorda
Igreja! Que prestemos a devida reverência ao Cordeiro de Deus, ao Noivo, ao
Amado das nossas almas!
¹ ZIBORDI, Ciro Sanches, Evangelhos que Paulo Jamais
pregaria, 13º impressão, CPAD, Rio de Janeiro, 2015, cap. 8, p. 145.
² Bíblia de Estudo Dake, 2º edição, Editora Atos, 2012, p.
93, nota de rodapé 3.5c.
³ Veterotestamentário significa «relativo ao Velho Testamento». É
uma palavra constituída por vetero- (do latim vetus, vetĕris, «velho») e pelo
adjectivo/adjetivo testamentário, «relativo a testamento»
4 vide link: http://kdfrases.com/usuario/cleissivan/frase/95352.
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