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sexta-feira, 13 de abril de 2018

A PREGAÇÃO - LEGATÁRIOS DE ANTIOQUIA OU HERDEIROS DE ALEXANDRIA?



O homem muitas vezes é movido por novidades e no afã de descobrir coisas novas acaba por não investigar as fontes dos fatos, por não averiguar aquilo que lhe é apresentado. No capítulo 17 de Atos dos Apóstolos Paulo prega de forma veemente na cidade cosmopolita e pagã de Atenas; ele prega Cristo e a Ressurreição para ouvidos que estavam acostumados a ouvir as últimas novidades. Os séculos se passaram e o homem permanece curioso vivendo em busca das mais recentes notícias do mundo. Infelizmente esse espírito curioso adentrou nos arraiais de muitas igrejas de tal maneira que é preciso inovar para não se parecer “tacanho” na liturgia ou na ordem do culto. No desejo de agradar aos homens denominações inteiras têm deixado as boas e velhas amigas: a ortodoxia e a ortopraxia para se fazer dos “cultos” verdadeiros circos onde comumente o púlpito é o picadeiro e o pregador o palhaço.

AS ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Na escola de Alexandria a interpretação reinante era a alegórica. O entendimento dos teólogos alexandrinos era o de que a interpretação literal das Escrituras se destinava única e exclusivamente aos iniciados, aos neófitos na fé, quanto aos que estavam consolidados no evangelho reservava-lhes uma interpretação um tanto quanto mais profunda, mais mística, mais espiritual do texto. Dentre os eminentes teólogos da supracitada escola consta o nome de Orígenes, teólogo que influenciou alguns outros Pais da Igreja que seguiram uma interpretação alegórica e João Cassiano a quem se atribui o uso da quadriga, método de interpretação que injetava no texto sagrado quatro sentidos distintos, são eles: Literal, Alegórico, Tropológico e Anagógico. A quadriga foi sem dúvida para muitos teólogos alegoristas o ápice da sistematização da interpretação alegórica. Nesse ínterim, nasce a escola catequética de Antioquia em reação à escola de Alexandria. Os antioquianos partiam da premissa que o bom intérprete das Escrituras deveria compreender a intenção do autor canônico e isso se daria por uma interpretação literal do texto bíblico.

A HERANÇA ALEXANDRINA NA PREGAÇÃO

Se existe uma herança alexandrina em voga em nossos dias são os sermões aos milhares que são pregados em muitas igrejas. Famigerados pregadores mormente do meio pentecostal moderno e da seara neopentecostal ressuscitaram o conceito alexandrino chamado alegorese. Eles conseguem enxergar significado simbólico em tudo. São os atuais discípulos de Orígenes que contemplava as duas ordenanças, a ceia e o batismo nas moedas do bom samaritano dadas ao hospedeiro. Quando estão diante das pedras recolhidas por Davi no ribeiro atribuem significados fantasiosos e mirabolantes. Quando diante do cesto de junco que levava o menino Moisés no Nilo encontram significados pitorescos e exaurem aplicações inusitadas. Quando diante dos cinco pórticos de Salomão no capítulo 5 de João concluem que os mesmos apontam ou para os cinco nomes de Jesus (Is 9.6) ou para os cinco ministérios da igreja (Ef 4.11).

CONJECTURAS INFUNDADAS ASSOCIADAS AO ALEGORISMO

Em recorrentes situações a alegoria é posta em prática quando o pregador se vale de uma mensagem calcada em conjecturas bizarras e extravagantes. No ímpeto de anunciarem “coisas novas” contemplam o capitão do navio onde Jonas estava embarcado, vislumbram a mãe do filho pródigo e não é exagero afirmar que pregam até sobre o marido falecido da viúva de Naim por pensarem ter se “esgotado” o assunto do filho morto. Eles fazem uso da Bíblia como se a mesma fosse um livro que pode ser exaurido até a última gota como os demais best sellers deste mundo. Ledo engano. A Bíblia é um tesouro inesgotável, uma fonte inexaurível. É como um manancial que jorra água ininterrupta e perenemente. Precisamos ser legatários da herança deixada em testamento pelo pais antioquianos e não herdeiros por imposição da maléfica interpretação alegórica alexandrina. Entretanto, vale ressaltar que na busca pela verdade homens piedosos se equivocaram em escolher o método alegórico de interpretação; em contrapartida ainda que possa haver nos dias hodiernos pessoas piedosas que incorram inadvertidamente no mesmo erro, na maioria das vezes os sermões alegóricos fazem parte de um script que é composto por novidades, palavras de persuasão e euforia por parte dos ouvintes. Os alexandrinos erravam em alegorizar a Bíblia, mas pelo menos buscavam um sentido cristológico; já os pregadores alegoristas de hoje falam sobre tudo, menos de Cristo. Permaneçamos a interpretar a Bíblia como Luciano de Antioquia, Agostinho de Hipona, Ambrósio de Milão, João Crisóstomo, como os Reformadores e os puritanos e, que possamos deixar o mesmo legado às gerações futuras como nos foi confiado.

                                                                                           Por Esdras Moreira Machado



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