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sexta-feira, 11 de maio de 2018
A Voz de Cristo dissipa todo silêncio

A Voz de Cristo dissipa todo silêncio



O período intertestamentário também conhecido como “Os Anos Silenciosos” cobriu um espaço de 400 anos nos anais da história do Crescente Fértil mais precisamente da região chamada Palestina. Nesses anos sombrios e taciturnos não houve ninguém intrépido suficientemente para declamar a sentença: Assim diz o Senhor como vociferaram Moisés, Elias, Isaías, Jeremias, Ezequiel e tantos outros profetas ou quem fizesse uso da fórmula “Veio a mim a Palavra do Senhor e disse”. Não havia ninguém. Ninguém se manifestava como porta-voz dos oráculos divinos. Quão silentes foram estes anos! Oh quão distantes estavam da voz alta de Deus no Sinai; oxalá! se ao menos pudessem ouvir o som dos trovões e relâmpagos e o sonido de buzinas! Mas, não havia nada, nem ruídos, nem bulícios, nem ao menos murmúrios. A única voz que se ouvia era a voz do homem vazia e desprovida da voz de Deus.

Com efeito, o silêncio perturbador fazia parte da consequente sanção de Deus com o povo judeu que havia rejeitado, desprezado e zombado dos seus profetas (1 Cr 36.16). A situação parecia irremediável. O silêncio triunfava e com ele as trevas da ignorância. Os poderosos desta terra se mantinham incólumes frente às suas impiedosas investidas e de seus terríveis e pérfidos atos. Não havia uma voz profética que os condenassem; que incomodassem suas consciências levianas. Diziam eles: deixe estar como está! A classe sacerdotal permanecia na religiosidade fria e na hipocrisia descarada; mas também não houve quem falasse em nome de Deus contra os seus vícios e mazelas. 

Entretanto, Deus resolveu romper o silêncio que perdurava por aproximadamente 4 séculos. O evangelista Lucas narra que estando alguns pastores no campo durante as vigílias da noite guardando seus rebanhos foram surpreendidos por um anjo do Senhor e a glória do Senhor os cercou de resplendor e tendo eles grande temor foram-lhes anunciado o nascimento do Salvador. Ademais, naquele mesmo instante apareceu um anjo e uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo:

“Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!” (Lc 2.14).  

Uma multidão do exército celestial iniciou o rompimento de todo o silêncio até então continuado. Miríades de anjos louvavam a Deus rompendo o silêncio da noite. Mas havia ainda uma voz mensageira antes que de fato o Verbo falasse. João Batista se mostraria um ávido e eficiente arauto do Rei que estava por chegar. João Batista “a voz que clama no deserto e endireita os caminhos escabrosos” vociferava as verdades de Deus rompendo gradualmente com o silêncio do Período Negro. A voz profética em João Batista pregava o reino dos céus e o arrependimento para o ingresso no mesmo. O silêncio perdia o espaço pouco a pouco para a voz do excêntrico profeta que oraculizava no deserto da Judeia.

Contudo, o silêncio só seria totalmente suplantado quando a Voz se manifestasse e a obscuridade só seria completamente sobrepujada quando a Luz resplandecesse.

“O povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou. Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus. (Mt 4.16-17).

A Voz poderosa de Jesus ecoa nos arredores da Galileia; nas margens do lago de Genesaré; nas ruas e vielas de Cafarnaum; no cemitério de Gadara; nos logradouros de Betsaida e Corazim; nos becos da Betânia de Lázaro, Marta e Maria; nos assentos de Jericó; nas avenidas de Jerusalém; sua Voz se faz ouvir às multidões, mas igualmente a apenas uma mulher samaritana no poço de Jacó; a milhares de pessoas, mas de igual modo somente a Nicodemos. Sua Voz paralisa o mais vil e violento pecador. Sua Voz encontra os recônditos da alma, os labirintos do ser humano. Sua Voz expõe as mazelas da casta sacerdotal; a hipocrisia dos fariseus; a altivez e a pseudosabedoria dos saduceus; a egoística motivação dos zelotes e a vileza dos demais religiosos.

Enquanto alguns traziam apenas reminiscências da revelação de Deus no Horebe que fora mediada pelo legislador Moisés descritas na Torá; outros, se apercebiam que agora diante deles estava a Voz do próprio Deus. Não era mais necessário esperar no sopé do monte; doravante poderiam subir a montanha e ouvir o Criador, inclusive da montanha da qual fazia o seu púlpito e o trono de Deus na terra. E foi do Gólgota; do Monte da Caveira que bradou para o mundo a fim de testificar que sua obra havia sido finalizada: Está Consumado!     

Todavia, há nesse evento um triste paradoxo. Cristo rompeu definitivamente com o silêncio, mas os judeus se fizeram moucos à Voz de Jesus. Quando o Deus encarnado abriu a boca muitos preferiram a surdez à Voz divina; preferiram a comichão nos ouvidos à Voz estrondosa e libertadora do Filho do Homem. Igualmente muitos preferiram as trevas à Luz resplandecente de Cristo; preferiram a caligem à luminosidade refulgente do Senhor. Destarte, tanto a Voz e a Luz de Cristo se reservaram às suas ovelhas (Jo 1.5; 10.27). Embora, no Grande Dia a voz de Cristo será ouvida pelos filhos da impiedade como a voz espantosa e assustadora do Juiz de Toda a Terra (At 17.30-31, Mt 25. 31-32). Parafraseando Agostinho: Cristo rompeu o silêncio e a nossa surdez com seu grito de amor no Calvário.  

sexta-feira, 4 de maio de 2018
 A LISTA DE SCHINDLER POR UMA ÓTICA TEOLÓGICA

A LISTA DE SCHINDLER POR UMA ÓTICA TEOLÓGICA



Recente ao acabar de ver o Filme "A lista de Schindler", a obra-prima do premiado cineasta judeu Steven Spielberg pude constatar a bondade, a generosidade e o altruísmo de um alemão que teve seu nome alçado na história por salvar 1200 judeus dos campos de concentração e, consequentemente da morte. Haja vista um olhar teológico da vida de Oskar Schindler, a menos que este homem tenha sido regenerado por Deus, suas ações generosas não passaram de uma manifestação da graça comum de Deus; pois qualquer ato de bondade não vem do homem, mas se origina em Deus.

Schindler a princípio viu nos judeus uma oportunidade de lucro altíssimo com a mão de obra barata. Ademais, o mesmo era membro do partido nazista, mas inexplicavelmente se compadeceu pelo povo judeu. Se restringirmos a nossa crítica com um olhar social certamente o consideraremos um grande humanitário, todavia, se usarmos as lentes do olhar teológico inequivocamente chegaremos à conclusão que Deus soberanamente injetou bondade no coração de Oskar para que o mesmo livrasse aqueles judeus. Com efeito, não foi Oskar Schindler que salvou mais de mil judeus, mas foi a mão poderosa, norteadora e controladora de Deus sobre a vida deste alemão. Todos alemães que se compadeceram de judeus não o fizeram por bondade própria, mas pela "boa dádiva e pelo dom perfeito que desce do alto, do Pai das Luzes" (Tg 1.17).

Mas é perfeitamente possível que possa surgir uma pergunta na mente do leitor, assim como surgiu na minha! Como Deus pode salvar 1200 judeus usando Schindler e permitir que outros 6 000 000 000 judeus se tornassem mártires do que ficou conhecido na história como O Holocausto? Sinceramente eu não sei. Creio que nem mesmo os judeus têm a resposta do porquê de tanto sofrimento que lhes acometeram nos idos sombrios da década de 40. Na teologia nomeamos isso de "O Problema do Mal". Mas se resolvermos trilhar por esse caminho obscuro de incertezas se entregando a tais sendas de horror, duvidaremos da existência de Deus bem como da veracidade da Bíblia. Para mim a máxima é: A existência do mal não prova a inexistência de Deus! Pode se acrescentar a isso que a existência de Deus não exige obrigatoriamente que o mal seja irreal ou inexistente como advogava a matriarca da Ciência Cristã Mary Baker Eddy ou que ainda a existência do Mal revogue o atributo moral de Deus, a saber, sua bondade.

O fato é que não pretendemos elaborar uma nova teodiceia¹, mas apenas fazer uso da definição de mal de C.S Lewis em sua magna obra: Cristianismo Puro e Simples que define o Mal como uma perversão do Bem. O Mal é a perversão da perfeição que podemos chamar de Bem. ² Ainda como bem define Lewis os cristãos são convictos da origem do Mal que se dá na figura do Querubim ungido que posteriormente decaiu de seu estado original (Ez 28, Is 14). ³ Mas, a pergunta perdura: Porque impera o mal enquanto Deus reina soberanamente? Respondo ao leitor com outra pergunta: Porque em Atos 12 Tiago morre ao fio da espada e Pedro escapa da prisão e de sua iminente morte? Nessa hora nos calamos; resta-nos aceitar resignadamente a vontade soberana do Deus que continua a reinar soberanamente não obstante o mal que aflige a humanidade, inclusive os filhos de Deus.
Quando falamos do mal perpetrado por agentes morais a resposta pode ser achada na Queda do homem; sua natureza, sua maldade nata, em suma, o homem é uma “máquina de pecar”. Entretanto, quando o mal se reserva às catástrofes da natureza, poderia ser mais difícil convencer o homem de que até isso faz parte do corolário da Queda. 

Mas, e quando o mal atinge os salvos em Cristo, e quando o sofrimento bate à porta dos filhos de Deus e quando a tragédia encontra os servos do Deus Altíssimo? As respostas se escasseiam. A língua trava. A boca se cala. Se cala como a de Jó. Mas, se a boca se cala os ouvidos estão mais diligentes para ouvir as palavras consoladoras do Deus que tudo vê, tudo sabe, e em tudo pode intervir segundo a Sua Vontade. Para alguns seria muito mais fácil assumir um posição deísta e concluir que o mundo é como um relógio de corda que foi ativado pelo Criador e que agora funciona apenas por meio de suas leis naturais, mas a história não evidencia isso e nem as Santas Escrituras, antes revelam um Deus que fala, que comunica, que tergiversa, que dialoga, que se mostra, que se revela, que age, que reage, que se movimenta, que intervém e que controla todas as coisas. 

Se há duas lições teológicas que podemos exaurir do filme a Lista de Schindler são essas:

1ª O homem não pode realizar nada de bom por si mesmo. Toda e qualquer boa ação que o homem realizar vem de Deus.

2ª Deus permanece em seu trono durante a história governando soberanamente a terra, inobstante às guerras mundiais, ao nazismo, fascismo, comunismo, ao Holocausto, aos campos de concentração, à morte de milhões de judeus, inobstante, ao Estado Islâmico, Al-Qaeda, Boko Haram, Hamas, FARC e etc... Deus permanece sendo Bom.

¹ Teodiceia – Tentativa de justificar Deus frente a existência do mal.
² Lewis, C. S. Cristianismo Puro e Simples, São Paulo, Martins Fontes, pág. 21.
³ Lewis, C. S. Cristianismo Puro e Simples, São Paulo, Martins Fontes, pág. 21.

sexta-feira, 13 de abril de 2018
A PREGAÇÃO -  LEGATÁRIOS DE ANTIOQUIA OU HERDEIROS DE ALEXANDRIA?

A PREGAÇÃO - LEGATÁRIOS DE ANTIOQUIA OU HERDEIROS DE ALEXANDRIA?



O homem muitas vezes é movido por novidades e no afã de descobrir coisas novas acaba por não investigar as fontes dos fatos, por não averiguar aquilo que lhe é apresentado. No capítulo 17 de Atos dos Apóstolos Paulo prega de forma veemente na cidade cosmopolita e pagã de Atenas; ele prega Cristo e a Ressurreição para ouvidos que estavam acostumados a ouvir as últimas novidades. Os séculos se passaram e o homem permanece curioso vivendo em busca das mais recentes notícias do mundo. Infelizmente esse espírito curioso adentrou nos arraiais de muitas igrejas de tal maneira que é preciso inovar para não se parecer “tacanho” na liturgia ou na ordem do culto. No desejo de agradar aos homens denominações inteiras têm deixado as boas e velhas amigas: a ortodoxia e a ortopraxia para se fazer dos “cultos” verdadeiros circos onde comumente o púlpito é o picadeiro e o pregador o palhaço.

AS ESCOLAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Na escola de Alexandria a interpretação reinante era a alegórica. O entendimento dos teólogos alexandrinos era o de que a interpretação literal das Escrituras se destinava única e exclusivamente aos iniciados, aos neófitos na fé, quanto aos que estavam consolidados no evangelho reservava-lhes uma interpretação um tanto quanto mais profunda, mais mística, mais espiritual do texto. Dentre os eminentes teólogos da supracitada escola consta o nome de Orígenes, teólogo que influenciou alguns outros Pais da Igreja que seguiram uma interpretação alegórica e João Cassiano a quem se atribui o uso da quadriga, método de interpretação que injetava no texto sagrado quatro sentidos distintos, são eles: Literal, Alegórico, Tropológico e Anagógico. A quadriga foi sem dúvida para muitos teólogos alegoristas o ápice da sistematização da interpretação alegórica. Nesse ínterim, nasce a escola catequética de Antioquia em reação à escola de Alexandria. Os antioquianos partiam da premissa que o bom intérprete das Escrituras deveria compreender a intenção do autor canônico e isso se daria por uma interpretação literal do texto bíblico.

A HERANÇA ALEXANDRINA NA PREGAÇÃO

Se existe uma herança alexandrina em voga em nossos dias são os sermões aos milhares que são pregados em muitas igrejas. Famigerados pregadores mormente do meio pentecostal moderno e da seara neopentecostal ressuscitaram o conceito alexandrino chamado alegorese. Eles conseguem enxergar significado simbólico em tudo. São os atuais discípulos de Orígenes que contemplava as duas ordenanças, a ceia e o batismo nas moedas do bom samaritano dadas ao hospedeiro. Quando estão diante das pedras recolhidas por Davi no ribeiro atribuem significados fantasiosos e mirabolantes. Quando diante do cesto de junco que levava o menino Moisés no Nilo encontram significados pitorescos e exaurem aplicações inusitadas. Quando diante dos cinco pórticos de Salomão no capítulo 5 de João concluem que os mesmos apontam ou para os cinco nomes de Jesus (Is 9.6) ou para os cinco ministérios da igreja (Ef 4.11).

CONJECTURAS INFUNDADAS ASSOCIADAS AO ALEGORISMO

Em recorrentes situações a alegoria é posta em prática quando o pregador se vale de uma mensagem calcada em conjecturas bizarras e extravagantes. No ímpeto de anunciarem “coisas novas” contemplam o capitão do navio onde Jonas estava embarcado, vislumbram a mãe do filho pródigo e não é exagero afirmar que pregam até sobre o marido falecido da viúva de Naim por pensarem ter se “esgotado” o assunto do filho morto. Eles fazem uso da Bíblia como se a mesma fosse um livro que pode ser exaurido até a última gota como os demais best sellers deste mundo. Ledo engano. A Bíblia é um tesouro inesgotável, uma fonte inexaurível. É como um manancial que jorra água ininterrupta e perenemente. Precisamos ser legatários da herança deixada em testamento pelo pais antioquianos e não herdeiros por imposição da maléfica interpretação alegórica alexandrina. Entretanto, vale ressaltar que na busca pela verdade homens piedosos se equivocaram em escolher o método alegórico de interpretação; em contrapartida ainda que possa haver nos dias hodiernos pessoas piedosas que incorram inadvertidamente no mesmo erro, na maioria das vezes os sermões alegóricos fazem parte de um script que é composto por novidades, palavras de persuasão e euforia por parte dos ouvintes. Os alexandrinos erravam em alegorizar a Bíblia, mas pelo menos buscavam um sentido cristológico; já os pregadores alegoristas de hoje falam sobre tudo, menos de Cristo. Permaneçamos a interpretar a Bíblia como Luciano de Antioquia, Agostinho de Hipona, Ambrósio de Milão, João Crisóstomo, como os Reformadores e os puritanos e, que possamos deixar o mesmo legado às gerações futuras como nos foi confiado.

                                                                                           Por Esdras Moreira Machado



sexta-feira, 18 de agosto de 2017
Uma multidão Indigna

Uma multidão Indigna

Duas multidões e um interesse comum entre elas: A fome que as motivavam estar perto de Jesus. Mas, a de João 6 tinha fome do pão perecível desta terra (Jo 6.26); já a de Lucas 5 tinha fome do Pão Celestial, fome de ouvir a Palavra que saía da boca do Mestre (Lc 5.1). Ouviam a palavra através da Palavra. Alimentavam-se e saciavam-se do Pão vivo que desce do céu! Este paralelo é perfeitamente aplicável aos nossos dias, ainda há duas multidões, ainda hoje  pessoas esfaimadas, contudo, ainda hoje uns correm atrás de Jesus por causa da prosperidade e de uma vida bem-sucedida outros são motivados pelos milagres que podem fluir e irromper de suas mãos, contudo, há aqueles que "comprimem" Jesus por causa da sua Palavra que alimenta, que sustenta e que sobretudo, não traz somente subsistência, mas vida, fôlego, o respirar para o crente.  

Se não, vejamos, como se comportava a multidão de João capítulo 6 e qual a sua relação com as multidões espalhadas pelos templos a fora do nosso país e quais as aplicações possíveis para o nosso tempo ao exaurirmos esta perícope bíblica.  

A multidão de João capítulo 6 não está à procura de milagres, prodígios, sinais ou maravilhas que o Mestre operava, mas o versículo 26 deste mesmo capítulo nos revela a mesquinharia de tal multidão: 

"Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não porque                                     vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos saciastes" 

 Champlin comenta: Jesus percebeu perfeitamente a frivolidade deles, em meio à fingida  decisão de o seguirem como discípulos, tendo notado como a mente deles se prendia  exclusivamente aos benefícios físicos que ele lhes poderia prestar.¹ 

Essa multidão era tão carnal e terrena que haviam atravessado o mar da Galileia apenas para receberem do Cristo pães para satisfazer-lhes as necessidades fisiológicas. Mais se pareciam com cadáveres ambulantes. Estavam tão mortos espiritualmente que só enxergavam os pães e os peixes. O pão e o peixe faziam parte da alimentação básica dos galileus.  Estavam acostumados com o básico, com o raso, com o superficial. Essas pessoas viam na figura de Jesus um messias terreno que os libertariam do jugo romano; reduziam tudo o que Jesus fazia a meras provisões físicas e materiais. Ademais, essas pessoas eram tão interesseiras, que pasmem os leitores, não estavam doentes nem acometidas por qualquer enfermidade, pois não haviam "acossado" o Senhor para contemplarem os milagres, os sinais, os prodígios e as maravilhas.    

Embora hoje haja multidões enlouquecidas para ver milagres (aliás, nunca houve tantas músicas gospéis com essa temática), há aqueles que atravessam cidades e até estados para receberem "o melhor desta terra", para adquirirem a tão sonhada prosperidade financeira. Templos abarrotados de pessoas vazias. Vazias de Deus. Vazias da Sua Palavra. Vazias da sua presença. E cheias de interesses. Cheias de "segundas intenções". Cheias das coisas desta terra. Tiveram a oportunidade ímpar de comerem do banquete espiritual proporcionado pelo próprio Deus encarnado, mas estavam decididas a extraírem de Jesus apenas o que lhes interessava. Como essa verdade é coeva para os nossos dias; a única coisa que muda na história são os personagens, mas a multidão é essencialmente a mesma.   

Quando acharam aonde Jesus estava (v.25) o indagaram: Rabi, quando chegaste aqui? Jesus nem ao menos se deu ao trabalho de responder, pois sabia que que aquela multidão não era digna de ter ciência do milagre de Jesus andando por cima da àguas. Naquele momento tal milagre poderia soar estranho aos ouvidos daquelas pessoas, uns poderiam descrer, outros não se sentiriam impactados por tamanho milagre, dada a cegueira que os levavam a pensar e desejar somente o pão. Miseráveis homens. Estavam ao mesmo tempo tão perto de Jesus e ao mesmo tempo tão longe. Tão próximos e distantes. Tão ao lado e aquém. Será que não temos feito parte desta multidão indigna? Será que não temos nos comportado como se o Senhor fosse apenas o provedor material para nós? Hoje o Senhor nos faz a mesma pergunta que fez aos 12 discípulos: Quereis vós também vos retirar-vos? Que os nossos lábios imitem os de Pedro e proclamem o Senhorio e a Messianidade de Jesus Cristo; "Para quem iremos nós? Senhor, só tu tens as palavras de vida eterna. E nós temos crido e bem sabemos que tu és o Santo de Deus" 

Por Esdras Moreira Machado 

¹ O Novo Testamento interpretado versículo por versículo por Russel N. Champlin, Nova edição revisada, São Paulo, Editora Hagnos, 2014, vol. 2, pág. 459, nota 6.26
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